Um novo cometa vindo de outro sistema estelar está deixando os astrônomos perplexos. Batizado oficialmente de 3I/ATLAS, o objeto foi flagrado pelo Telescópio Espacial Hubble em 21 de julho de 2025, quando estava a cerca de 447 milhões de quilômetros da Terra. A imagem mostra um núcleo gelado envolto por um casulo de poeira em formato de lágrima — um visual típico de cometas, mas com uma química que desafia completamente as expectativas.
O Telescópio Espacial Hubble registrou esta imagem do cometa interestelar 3I/ATLAS em 21 de julho de 2025, quando o objeto estava a cerca de 447 milhões de quilômetros da Terra. A fotografia revela que o cometa possui um casulo de poeira em forma de lágrima, que se desprende de seu núcleo sólido e gelado.
Créditos da imagem: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA); Processamento da imagem: Joseph DePasquale (STScI).
Trata-se apenas do terceiro corpo interestelar já confirmado a passar pelo nosso Sistema Solar, depois de ʻOumuamua (1I) em 2017 e 2I/Borisov em 2019. Contudo, o 3I/ATLAS já se destaca como o mais enigmático entre eles.
Uma química fora do comum
Dados obtidos pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST) confirmaram que o 3I/ATLAS é realmente um cometa, com uma coma (nuvem de gás e poeira) brilhante. No entanto, as análises no infravermelho revelaram algo surpreendente: o cometa possui uma proporção de dióxido de carbono (CO₂) oito vezes maior que a de água — uma das mais elevadas já registradas.
Esse valor é tão extremo que apenas um outro cometa conhecido, o C/2016 R2, apresenta algo semelhante. Para os cientistas, essa composição rara indica que o 3I/ATLAS provavelmente se formou em um ambiente muito diferente daquele em que surgiram os cometas do nosso próprio Sistema Solar.
Em um artigo submetido à Astrophysical Journal Letters, os pesquisadores sugerem algumas hipóteses. O cometa pode ter se originado próximo à “linha de gelo” do CO₂ — a distância de uma estrela jovem onde o dióxido de carbono congela —, ou em uma região exposta a altos níveis de radiação, que teriam alterado sua química. Outra possibilidade é que o núcleo do 3I/ATLAS tenha uma crosta isolante, impedindo a liberação de vapor de água à medida que ele se aproxima do Sol.
“Nossas observações são compatíveis com um núcleo intrinsecamente rico em CO₂”, escreveram os autores, destacando que a composição incomum pode refletir tanto o local de formação quanto a história de exposição à radiação no sistema estelar de origem.
Um viajante antigo da galáxia
Além de sua química exótica, o 3I/ATLAS chama atenção por sua provável origem galáctica. Com base em sua trajetória, os astrônomos acreditam que ele veio da “espessa camada” (thick disk) da Via Láctea — uma região antiga e pobre em metais. Isso significa que o cometa pode ser mais velho que o próprio Sistema Solar, com 4,6 bilhões de anos.
Descoberto em 1º de julho de 2025 pelo projeto ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System), o cometa já foi observado não apenas pelo Hubble e pelo James Webb, mas também pela missão SPHEREx, que estuda a composição química do cosmos. Ele viaja a mais de 210 mil quilômetros por hora, tornando-se um dos objetos mais velozes já detectados cruzando o Sistema Solar.
As primeiras estimativas indicam que o núcleo do 3I/ATLAS tem entre 5 e 11 quilômetros de diâmetro, o que o tornaria o maior objeto interestelar já observado.
“Não sabemos de onde exatamente ele veio”, declarou David Jewitt, astrônomo da Universidade da Califórnia (UCLA) e membro da equipe do Hubble. “É como observar uma bala de rifle por um milésimo de segundo — impossível traçar com precisão o ponto de onde foi disparada.”

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